Foi exatamente assim que essa história começou.
Ele vivia numa pequena cidade no Sudeste do país. Nascido e criado na mesma cidade por sua família simples. O pai trabalhava na administração de uma empresa religiosa em ascensão, que no final das contas, não lhe rendera mais que perturbações. A Mãe dividia seu tempo entre os afazeres domésticos e uns pequenos bicos que fazia para ajudar nas despesas de casa. Ele ainda terminava o Ensino Médio sem maiores ambições. Tinha um serviço não muito bom, mas que o proporcionava levar algum pra casa para dar sua contribuição.
No que se referia a características dele, sabíamos que era humilde, do tipo capacho dos outros, meio bipolar, hora estava bem, hora mal,podemos considerar mais mal do que bem. Não podíamos dizer que estava apaixonado, mas tinha certa atração pela colega mais bonita de sua classe, que embora ele nunca tivesse descobrido se ela havia sacado sua imensa afeição por ela, não seria ele quem fosse contar. Era tímido demais o pobre imbecil. Mas acreditava que ela soubesse sim, sempre que ela se referia a ele, usava um charmezinho atipicamente cruel, e seus olhos brilhavam enquanto jogava seus cabelos, sem dúvidas, para que ele pudesse sentir o seu cheiro. Nesses momentos eram onde suas confusões o assolavam, queria se aproximar, mas ela era ela, e ele... Apenas Ele. Tinha medo dela, de uma possível e inevitável rejeição, assim como sempre tivera medo de relacionamentos, não era pra menos, nunca tivera sido feliz em um dos anteriores.
Ele era um babaca.
Quanto a Ela, não a garota da escola, Ela, A “Ela” da nossa história, infelizmente não temos muitas informações. Provavelmente crescia em sua família de Classe Média, na divisa de dois estados no Sul, sonhando com sua faculdade de Medicina, e com seu Príncipe Encantado que a levaria para a Irlanda, quem sabe. Sua personalidade se formava enquanto amadurecia. Altivez, ironias seguidas de perto pelo sarcasmo, sem contar o seu humor negro e inteligente caracterizavam o seu forte temperamento.
Não acho muito ético falarmos muito sobre ela, pelo fato de conhecermos melhor o lado dele nessa história. Então vamos pular tudo isso, e chegarmos logo na parte que o Destino, coloca um na vida do outro.
Bom, foi em uma noite dessas sem menores expectativas. Ele navegava em um desses sites de relacionamentos, e esbarrou em uma daquelas comunidades, que se relacionava a um filme que havia assistido há pouco. Sem hesitar, ingressou na mesma, e encontrando um tópico cuja finalidade era criar uma historia relativa à personagem do filme, sem problemas nenhum, escreveu a sua e pronto. Estava lá o nosso babaca, participando da comunidade. Sua história lhe rendera alguns comentários de alguns participantes, e de cara nosso amigo, se identificou com algumas outras pessoas.
A partir daí, o seu contato com aquelas pessoas desconhecidas não cessou mais, estava sempre lá. E num dia desses lá também estava Ela.
Suas trocas de mensagens passaram despercebidas, até o momento que perceberam que estava se firmando uma amizade entre eles. Coisa que ainda não é muito bem aceita na nossa sociedade globalizada e tecnologicamente desenvolvida. Vai se entender esse povo. Mas o fato era que ela aparecera na vida dele, no mesmo momento em que ambos precisavam um do outro. Ela precisando de apoio pra tomar decisões no que se referia a um relacionamento anterior, e ele precisando de uma cura pra sua estupidez, e de alguém que lhe mostrasse como era se sentir vivo.
Eles eram tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Se houve um caso na história da humanidade que se poderia dizer que existia duas pessoas em que realmente, uma completava a outra, era nessa história. Eram parceiros de verdade. Amigos.
Amigos de filmes, livros, músicas e quaisquer outras afinidades, desde coisas fúteis a opiniões religiosas.
Conforme o tempo passava, cada vez mais, um se tornava mais essencial para o outro. E quando deram por si, a amizade que tinham não era suficiente pra nenhum dos dois. Ambos queriam mais. Mas como se dá isso, se nem ao menos se conheciam, desconheciam completamente a vida real um do outro. Como o babaca com medo de relações estava caindo em si e percebendo que amava a irônica e inteligente projeto de médica? Como poderia ser possível?
E o tempo passava e junto com ele a vontade de estarem perto um do outro aumentava. Uma vez, ela sumiu, sem deixar rastros, ele quase enlouquecera, o que causou uma briga sem sentido, mas que servira para algo, perceberem que estavam tão interligados que alguns dias distantes do contato, ainda que virtual, correspondia ao mesmo que um martírio. Ele planejava ir encontrá-la. Sonhava com isso. Mas sua realidade ainda não havia permitido. Imaginava, projetava, das mais diferentes formas possíveis, como seria esse encontro. Sonhava com ela, procurava por ela. Buscava em cada rosto pela cidade o rosto dela.
O Tempo veio, e não facilitou nada em favor dos dois. Parecia que tramava junto com o Destino e com a Vida, que tem por hobby separar pessoas que se amam. E aconteceu que chegou a hora que cada um tinha que buscar seus próprios caminhos. A Ausência começou a sufocar o amor que os dois sentiam sem nem se conhecer. Os problemas vieram, e por fim decidiram colocar um fim naquela história, embora que isso causasse dor. Decidiram seguir os novos caminhos que a vida decidiu lhes impor, mas não sem antes prometerem guardar os momentos bons que tiveram juntos, e aquela coisa toda, de casais apaixonados... vocês sabe como é...
Assim fizeram.
Ela descobriu que seu pai viajaria pra região Sudeste, e decidiu ir com ele, decidira que pediria ao pai para passar ainda que por instantes na cidade dele. Afinal, ela queria muito conhecê-lo. Assim aconteceu. Eles procuraram o endereço dele, mas não o encontraram. Ele havia saído mais cedo e não voltaria naquele dia.
Ele tinha saído de uma reunião e iria dormir na casa de um amigo que morava perto. Esse amigo, estava ajudando ele a superar tudo o que estava passando, o aconselhara sair com outras garotas, a não estagnar sua vida. Naquela noite ele havia escrito uma carta, uma carta que continha um texto que mandaria para ela. Um último texto. No caminho um Astra Preto, encostara e de lugar algum dois caras encapuzados o cercaram, colocaram o motorista do carro para fora a pontapés. Um deles tirou o seu revólver e apontou para o motorista, disparando dois tiros em sua cara. Nosso amigo tentou se esconder. Tarde de mais, o bandido já o tinha visto. Foi ao seu encontro e meteu-lhe uma bala no meio da testa, e sem ter tempo de se despedir, o Babaca que havia se tornado um homem, desde o encontro virtual com Ela, deixou a vida ultrapassando o véu que separa os dois mundos, antes que pudesse dizer à Ela que estava indo ao seu encontro.
O sangue escorria da testa, descendo pelo ombro e seguindo seu caminho pelo braço até chegar e inundar o papel que outrora estivera preso em sua mão.
Ela e seu Pai, seguiam seu rumo, nossa garota inteligente voltaria para casa, sem conhecer seu amado virtual. No caminho tiveram que pegar um desvio. Alguma coisa tinha acontecido naquela rua, que a polícia estava ali. Enquanto o seu pai conversava com o guarda, tiveram que abrir passagem para o carro do Corpo de Bombeiros... Parecia que haviam dois corpos na rua. Um senhor e um rapaz haviam sido assassinados friamente, pelo que o policial lhes haviam contado. Imagina que coisa – pensara ela – quantas pessoas não deviam amar essas pessoas e deviam estar os esperando em casa.
Dias depois, recebera um e-mail, de um desconhecido. Nele explicava tudo o que havia acontecido. Num arquivo em anexo, havia uma imagem do que havia sobrado do papel que Ele segurava naquela noite. Com a sua caligrafia estava escrito no meio de umas manchas de cor enferrujada:
“Tens minha palavra Minha Dama.
Volto para casa, mas ao findar a luz,
Estarei de volta.
À sua espera. À sua Procura.
Pronto para realizar meu anseio.
Tens minha palavra.
Estarei aqui... Por você,
Por mim...
Por nós.”
Essa é uma daquelas típicas histórias que nos fazem parar pra pensar no que estamos fazendo na vida, com o que estamos gastando nosso tempo, etc. e tal. Eu adorei o seu texto Érico até por que ele se mostra tão profundo quanto as águas de um lago ou como a alma humana consegue ser as vezes. Não dá para entender a nós seres pensantes que a cada instante estão a criar algo novo, mas de uma coisa nós sabemos e entendemos muito bem... Nós conhecemos e reconhecemos nossa criatividade e viva a isso... Parabens meu amigo pelo texto e eu espero realmente poder ler mais e mais deles.
ResponderExcluirP.S. Espero por aquele em especial q mandastes pelo MSN noutro dia. Bjks
J.B. Banch (sua amiga Jéssica)
Viu eu fui a primeira aham aham rsrsrsrs
ResponderExcluirDesculpe-me, minha conexão caiu, não pude dizer boa noite a você, mas estou indo dormir agora por que amanhã (ou seja) hoje tenho muito trabalho a realizar.
Bjks
Essa história me lembra alguem em especial, e me faz pensar que naum devemos deixar as coisas esperarem por muito tempo... Continue assim escrevendo dessa forma profunda que pow toca perfeitamente te desejo tudo de bom amigo
ResponderExcluirbjãoo
PARABÉNS!!!!!!
ResponderExcluirÉ ótimo encontrar textos como este na rede que trazem uma história forte, profunda, e que nos fazem com isso refletir. Alguns nos fazem perder nosso tempo, e outros, como este, fazem com que o tempo gasto tenha valido ouro.
Tenho certeza que de onde veio este virão muitos outros.
braços
Patrick Thouin