quarta-feira, 7 de setembro de 2011

S&S04 - Carry You Home


"A song for your heart,
But when it is quiet,
I know what it means
And I'll carry you home..."
(James Blunt)

- Baseado em Fatos Reais -

Abril.
Dia primeiro.
Tom assistia o último raio de sol desaparecer no horizonte enquanto pensava no que havia do outro lado.
Ele costumava dizer para sua pequena garotinha, que quando as pessoas morriam, Deus as levava para o céu, e se elas tivessem sido muito boas aqui na Terra, quando elas entravam pelo grande portão de ouro, o próprio Deus em pessoa, as dava um par de asas. Durante todo esse dia, sua garotinha era só no que ele conseguia pensar.
E se lá do outro lado, nesse exato momento, sua filhinha estaria com seu par de asas, voando de um lado a outro, como quando ela se vestiu de fada para a última festa da escola que ela havia participado antes de adoecer. Céus, ela havia ficado tão linda! 
- “Olha papai... olhe as minhas asas!” – ele conseguia ouvir... “Iguais, papai, as que eu terei no céu! Sim, papai! Porque eu serei uma boa pessoa!”
Ele nunca havia imaginado que isso doeria tanto um dia.
Um ano.
Um ano que o seu maior bem havia sido tirado dele. Um ano sem aquele primeiro sorriso logo de manhã.
Tudo havia começado com uma reclamação de que suas pernas estavam doendo.
- “Papai... mamãe disse que não era pra eu ir brincar na rua. Mas eu teimei e fui... agora minha perninha está doendo papai...”
Em um mês ela estava internada.
Com o passar dos dias foi diagnosticada a leucemia. E as suas perninha, que doíam, não eram sentidas mais.
O tempo passou, ela ali hospitalizada, veio o dia de ir para casa. A vida daquela família passou por uma série de modificações, porque além de uma pessoa com leucemia, ela era apenas uma menina. Uma menina com leucemia e com paralisia da cintura para baixo.
De tempos em tempos, ela tinha que ir a outra cidade para tratamentos, exames, e assim as coisas iam. Seus lindos cabelos negros e cacheados começaram a cair por conta da quimioterapia, e logo providenciaram a ela chapéus.
As coisas não andavam muito bem. Os tratamentos não estava surtindo efeito.
Seus pais a levavam a igrejas, na esperança de receber ali a cura.
Num determinado tempo depois, ela começava a apresentar melhoras e quando todos imaginavam que as coisas estavam melhorando, tudo aconteceu muito rápido.
Ela piorou, fora levada ao hospital e de lá, para a tristeza de muita gente que já estavam voltando a confiar em seu sucesso contra a doença, um pai se encontrava debruçado sobre sua menina de 14 anos, que não desistiu de lutar mesmo quando ninguém mais havia tido forças. Mesmo quando muitos não conseguiam mais a visitar porque não conseguiam mais a encarar daquele jeito.
Ali, logo após ter dito a seu pai: “Eu estou dando muito trabalho a vocês, não é, papai”, aquela forte garota, e um exemplo para todos nós, fragilmente se ia.
Ali, na noite a qual no dia 1° de Abril fazia um ano, um pai assistia sua filhinha respirar pela última vez.
Tom assistia sua menina, sua fada, sua boa pessoa, ser levada do mundo ao mesmo tempo em que o último raio de sol desaparecia no horizonte.
E ali, um ano depois, naquele mesmo dia, no mesmo último raio de sol, ao pensar em seu Pequeno Anjo com suas asas no céu, Tom pode apenas sussurrar:

“Tudo o que eu mais queria minha linda, era te levar pra casa.”

- In Memorian -