segunda-feira, 1 de agosto de 2011

S&S03 - Fátima.

Vamos fazer uma pequena reflexão sobre o que aconteceu nos últimos dois anos antes de começar a relatar o que aconteceu na igreja nesse dia sexto do mês um desse ano.
Reverendo Marques. Este é o nosso homem. Sua esposa Elena, havia adoecido. Os médicos não descobriam o que ela tinha, mas a submetiam a exames atrás de exames. Pra cada possível diagnóstico, um possível tratamento. Sua condição financeira não era tão boa. A igreja lhe oferecia o aluguel da casa, uma pequena ajuda de custo pra manutenção da mesma. Um salário base que cobria as contas, supermercado, vestimentas (não sempre)... essas coisas do dia-a-dia. Eles viviam nessas condições. O dinheiro até dava pra sobreviver, mas não com muito conforto. E muito menos com esses “luxos” de médicos, exames e tratamentos aos quais se davam essa família. O Reverendo fazia o que podia pela sua congregação. Ajudava quem pedia por seu auxílio, hospedava pessoas dentro de sua própria casa, quando havia necessidade. Elena antes de cair de cama, fazia o que podia para dar conta da casa, da igreja, e de conseguir algum dinheiro extra pra ajudar em casa, agora como foi dito, ela estava parada por estar de cama. E como podemos imaginar o dinheiro não estava sendo suficiente. O reverendo tentou recorrer aos seus superiores. Nada podiam fazer, teriam que recorrer aos superiores dos superiores... Numa dessas nós nos perguntamos... E o amor? É, só serve pra nos emocionar em seus lindos sermões. Marques viajou para falar com o regente da Catedral, que disse que tentaria fazer o que podia. Dias depois, Marques recebeu uma cesta básica, e uma ajuda de custo de R$500,00, o que ajudou, mas não era o suficiente. Ele tentou conseguir dinheiro por fora pra não ter que recorrer novamente à igreja. Fora repreendido. Sendo assim, tentou falar com o responsável pela Catedral. Mais alguns dias depois recebera a resposta: “Eu entendo o seu drama, mas a igreja não está passando por uma boa fase, e não poderemos fazer nada por agora. Sinto muito. E estimamos melhoras à Sofia. ”
Sofia? Quem era Sofia? Ah acho que ele queria dizer Elena.
Mais um tratamento e mais um exame. Esses valores, seu plano de saúde não cobria. E ele não tinha condições de bancar. Sua congregação vendo o que estava acontecendo, embora sendo muito humilde, tentou levantar algum dinheiro para ajudá-los. Ele agradecido e emocionado com os seus fiéis, pegou aquele dinheiro que não bancava nem um terço dos tratamentos, e tentou negociar com as clínicas, que havia orçado tudo... Não ia ser suficiente.
Começando a ficar desesperado, mas sem perder sua fé, ele começou a procurar alternativas. Não havia família nenhuma para ajudá-los, seus amigos, não tinham condições. Estavam sendo dias bem difíceis... Elena só fazia piorar.
Num desses dias apareceram dois homens em sua porta oferecendo ajuda. O Reverendo não sabia o que fazer. Do dinheiro eles precisavam. As condições de pagamento, por hora, não falariam sobre isso. Ele preferiu acreditar nas pessoas e bem que ofereciam ajuda.
Na semana seguinte, em que iriam trazer o dinheiro, Elena teve que ser internada. Havia piorado exponencialmente. Marques pegou o dinheiro e pagou até mais para que a mandassem logo pro tratamento que Elena precisava. Deram início aos exames, e ela não apresentava indícios de melhora. Assim foi se arrastando aquela semana.
Na seguinte, ela melhorou, foi transferida para um quarto e podia receber visitas. Dois dias depois da transferência, no meio da madrugada ela foi pro CTI. Os fieis se revezavam no hospital, sempre trazendo uma palavra de conforto e fazendo orações. E ela continuou naquele estado até fim da outra semana, quando no meio do dia, faleceu.
O Reverendo enterrou sua esposa e voltou ao trabalho. Todos, a sua volta diziam que ele devia descansar. Tirar férias. Fazer alguma coisa. Mas ele não queria saber de nada.
Sem se lembrar das boas almas que apareceram naquele momento que ele mais precisava, um dia, pra ser mais exato, agora um mês antes desse dia sexto do qual ainda vamos falar, o Reverendo saía de sua casa quando deu de cara com os homens. Constrangido, ele voltou a agradecer pela ajuda, e contou que infelizmente sua esposa havia falecido, quando pra sua surpresa eles disseram que “Não queriam saber” e que em um mês cravados eles voltariam para receber o dinheiro, e que se ele não o tivesse, usando as palavras que eles disseram “Ele arrumaria um jeito fácil, fácil de reencontrar sua esposa no céu.”
O Reverendo não sabia o que fazer. Viajou novamente pra conversar com o Presidente da Catedral, que ao invés de lhe ouvir e tentar lhe ajudar, lhe repreendeu por “ter agido daquela forma totalmente errônea e fora dos princípios cristãos, porque quando um servo do Senhor precisa ele deve comunicar suas necessidades ao Santo da Igreja e agora, o que ele iria fazer... e...”
Ele voltou pra casa irado com a direção de sua igreja. E sem nenhuma ajuda. Resolvera deixar nas mãos do Criador. O tempo se passou, e ele não havia se preocupado em conseguir o dinheiro. Aconteceria da forma que havia de acontecer. Se haveria uma Intervenção Divina, ele só saberia quando chegasse o dia. Mas ele acreditava em Milagres, embora sua esposa não tivesse entrado na lista de espera do céu.
No dia sexto do mês um do corrente ano, o Reverendo lá estava terminando o seu sermão sobre a Ressurreição, quando seus olhos correram pelo fundo da igreja e por lá encontrou os dois homens. Estavam com seus ternos negros das outras aparições, acompanhados por outro que vestia branco que parecia se divertir com o rumo que o sermão levava. O Culto acabou, e o Reverendo se dirigiu a porta para cumprimentar seus membros que saíam como sempre fazia. Ele passou pelos homens e pediu que entrassem e aguardassem. Terminou de despedir o povo e voltou pra tentar conversar com os homens.
Que por sinal, não queriam saber se o dinheiro tinha surtido o resultado esperado ou não, ou se ele sabia que estava negociando com dinheiro sujo de agiotas ou não. O que importava era que ele tinha aceitado o dinheiro. E era isso... Ou devolveria o dinheiro com os juros, ou morreria. Era a escolha dele. O Reverendo tentou alegar que se ele tivesse aquele alto valor, ele teria usado no tratamento da esposa antes, e duas coisas não teriam acontecido: Sua esposa não haveria morrido e Aquela visita. Mas o homem de branco não queria saber. Queria o dinheiro ou ele morreria.
Do lado de fora da igreja, na praça uma moça de na faixa 16 anos, estava com seus três irmãos se dirigindo igreja. - “Moisés!” - Ela insistia com sua voz doce. - “Leve Daniel e Elias pra casa! Eu só vou deixar o bolo com o Reverendo e já vou!” -  Moisés, o irmão maior, fez com que levava os menores pra casa, mas quando viu que a irmã entrara na igreja, deixou os meninos brincando na praça foi correndo pra igreja.
Lá dentro, o Reverendo estava parado em pé de frente ao homem de terno branco que deu ordem aos outros dois que o fizessem ajoelhar. Com brutalidade os homens cumpriram sua ordem. Nesse momento Fátima gritou - “Reverendo!” - e todas as atenções foram voltadas a ela. O homem de branco que já estava com a arma na mão, irado se virou e sem pensar atirou.
“FÁTIMA!” – foi a última coisa que o Reverendo gritou antes de ser baleado também.
Da brecha da porta, Moisés havia visto o que aconteceu. Tentou correr, mas suas pernas não obedeceram aos seus comandos. Uma lágrima escorria de seus olhos quando a porta se abriu e ele se deparou com os homens saindo. Seu olhar se cruzou com o do Chefe, pelo que podemos entender, que com todo seu ar de deus fez um sinal aos seus homens, que pegaram o garoto e se dirigiram rapidamente, (porque pelos disparos, as pessoas já estavam começando a correr pra igreja) ao carro que estava estacionado na rua lateral.
Maria, mãe de Fátima chorou chamando pelo filho e tentou alcançá-los... Em vão, o carro já saía a toda velocidade pela ruela que dava na pista, onde aconteceu tudo muito rápido. O carro perdera a direção e batera em uma caminhonete que vinha em direção contrária e rodara umas duas vezes no ar antes de descer amassando todo seu teto no asfalto.
E foi assim que as coisas aconteceram naquela cidade, naquele Dia Sexto, do Mês Um.
No dia seguinte, dois corpos e um caixão semi-vazio lacrado estavam sendo velados no cemitério municipal.
Uma tragédia que nunca mais seria esquecida.

“De repente o vinho virou água,
E a ferida não cicatrizou,
E o limpo se sujou...
E no terceiro dia,

ninguém ressuscitou.”