domingo, 10 de outubro de 2010

Stories about Songs - The Project

Então Galera,


Por ser o meu primeiro texto de interação com os leitores, gostaria de agradecer a todos pela disposição de seu tempo, para estar aqui.

Stories about Songs, é o meu mais novo projeto, pra aqueles momentos que a minha Síndrome de Escritor ataca.

   Num dia desses normais, andando na rua, com minha cabeça na lua, ouvindo musica no celular, quase sendo atropelado por trens, ônibus, carros, bicicletas e carroças, junto com a LUZ! Me veio a idéia, de criar histórias baseadas em músicas que eu gosto.
   A "Lanterna dos Afogados" foi o projeto experimental disso, e tenho recebido bons retornos acerca desse texto.
Com todo o respeito aos Paralamas do Sucesso, a idéia dessa história veio junta com a versão maravilhosa dessa música pela nossa eterna Cássia Eller, então de certa forma devo a ela, esse desenvolvimento, e à uma galera ae, de um site que discutem tentando montar análises de músicas.
  
   Espero que todos curtam, e por favor, se lerem, não deixem de comentar.

Assim que puder estarei postando outras histórias de minha autoria, sendo elas do S&S, ou não, considerando o fato de eu ter algumas outras.

Obrigado! Um forte abraço, e plagiando um dos meus professores, Um beijo na ponta do Nariz de todos!

Sejam todos Bem Vindos a Mystic River Place!

Enjoy!
  

Stories about Songs - S&S01

"Quando tá escuro,
E ninguém te ouve.
Quando chega a noite,
E você pode chorar."


Lanterna dos Afogados
(Paralamas do Sucesso)


* * *


A noite acabara de cair. Lá fora o vento característico da ponta do continente fazia a rede balançar de lado a outro. Da janela central da casa que tremia levemente, dava-se para se avistar lá na frente, sobre a rocha metros acima do nível do mar, o velho e imponente Farol. Ninguém podia negar que era uma das visões mais incríveis que se podia ter. Qualquer um morreria satisfeito, se aquela fosse a última cena que passasse frente a seus olhos.
De dentro, uma pálida e linda mulher, sentada frente a uma mesa, escrevia e contemplava a bela visão. Sentiria falta dali, quando olhasse ao redor e não encontrasse a magnitude daquela belíssima obra de arte criada pelos homens pegando carona na soberana criatividade do Senhor do Universo que produzira a matéria prima para aquela fantástica pintura.
O relógio marcava dez horas, quando ela de súbito despertou para a realidade dos fatos. Levantou-se, colocou a caneta e a folha de papel que escrevera em cima da antiga arca que ficava abaixo da janela, usando um porta retratos que continha a foto de um casal muito feliz, como peso para que a folha não voasse. Demorou seu olhar no sorriso satisfeito da moça. Sorriso tal que há tempos ela não conseguia encontrar, quando o procurava no espelho. Virou-se. Tinha que se arrumar. Não podia se atrasar para o encontro que teria.
Foi ao quarto, separou o vestido que ganhara de seu marido no ultimo Natal, que ambos tanto gostavam, e entrou no banho. Ao sair se vestiu, secou seus lindos cabelos escuros. Se perfumou. Saiu.
Sentindo o vento no rosto, inspirou. Expirou. Como era bom estar ali, pertencer aquele paraíso. Ela acreditava que poderia passar a vida inteira sem precisar ultrapassar os limites de sua varanda. Depois de inspirar novamente, desceu as escadas. Não precisaria de suas sandálias. Seguiria descalça o caminho de areia rente ao mar, que já subia e ameaçava tomar a parte branca que restava da praia, para fazer parte de suas águas negras, que há horas atrás não passavam de azuis.
Ela cruzou a demarcação de onde se dividiam areia e rocha e seguiu seu caminho por meio das pedras.
Sem muita dificuldade, pois já eram mais de onze e meia, estava escuro e o caminho já não era mais tão limpo e conservado quanto antigamente, alcançou o seu objetivo. Chegar ao antigo Forte. Encontrou a porta destrancada, como esperava que estivesse. "Será que ele já chegou?" Pensava ela. "Mas queria surpreende-lo com minha pontualidade!"
Lá de cima, a visão era totalmente diferente. Toda a magnitude do lugar era multiplicada por cada milímetro que a sensação de liberdade poderia proporcionar a um simples mortal. Estar ali, era quase como se pudesse voar. A frente, o mar e o horizonte, bem abaixo da iluminada deusa que refletia
sua majestade nas águas. O céu, negro e estrelado parecia convidativo a todos que almejavam descobrir o que os esperavam além do véu dos mundos. Virando-se para a direita, mais oceano e montanhas. À esquerda, a Praia que desistira de medir forças e se rendera ao mar, e mais rochas. Pouco mais adiante, nas pedras a confortável casa fazia-se notória, como uma criança enciumada quando perde seu brinquedo mais idolatrado.
Sem dúvidas seria A vida que ficaria para sempre na memória, por onde quer que ela fosse e seja lá com quem estivesse.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo cheiro característico da presença de quem ela esperava.
"Meu querido! Estou a sua espera!" Disse Erin, abrindo seu opaco embora não menos fascinante sorriso.
"Meu amor. Vim me despedir." Responde Kevin, em um tom de quem já finalizara o assunto, saindo das sombras e deixando que a Grande Lua iluminasse sua triste face.
"Mas você não pode me deixar! Somos um só..."
"Não torne isso mais difícil do que já é, minha vida." Retruca ele. Parecendo não ter forças e nem argumentos para continuar resistindo.
"Como você pode?" ela lhe lança um olhar de uma criança que acabara de apanhar sem nada ter feito. "Como? Você sabe que não posso continuar aqui, se você não estiver."
"Claro que pode." Uma pequena lágrima desceu pelo seu rosto. Mas ele poderia mesmo estar chorando?
"Não posso." Seu olhar se estreitando. "É a minha escolha, e nada, e nem você, vai mudar o que eu decidi."
"Erin" ele suplicou.
"Espere aqui. Eu estou chegando, Kevin."
Ela se virou. Seguiu até a pequena grade. Parou por um instante. Estaria ela hesitando? Não.
Ela subiu. Olhou novamente para ele. Uma última vez. Pelo menos naquela vida. Deu um último e gélido sorriso sentindo o vento novamente, e como Ismália, se projetou à frente cortando o ar.
Até não mais senti-lo.


***

Em uma folha: "13 de Agosto de 2010.

A noite finalmente chegou. Não tenho muito tempo e aproveito o que tenho, enquanto minha cabeça ainda consegue organizar as idéias, e colocá-las nesse papel.
Disseram que eu estava louca, e me indicaram um médico. Mas tenho certeza de minha sanidade. Só pelo fato de conseguir responder à simples pergunta: „Estou Louca?‟ sei que não estou. Um louco nunca teria a capacidade de se perguntar e responder a isso.
Se tem uma coisa que posso dizer que é real, são as experiências que tive. Eu realmente vejo, e posso não somente conversar, mas abraçar... Tocar o Kevin. Todas as noites. No farol.
Ele vem me ver todos os dias, desde que desapareceu no mar e disseram que ele estava morto. Ele pode estar morto para eles. Não para mim. Juramos um dia, naquele mesmo Farol, que nunca, NUNCA abandonaríamos um ao outro. Que não seríamos como esses casais estúpidos que são separados pela morte. Sabíamos que éramos melhores que os outros. Que o nosso amor era tão superior a qualquer outro que nem a Morte poderia nos separar.
E é isso. Eu sempre estive certa.
Nós sempre estivemos certos.
E hoje tomei uma decisão. E é mesmo a melhor coisa a se fazer. Não para vocês que são fracos e se fecham ao invés de ir atrás de suas convicções. Podem me julgar, Sociedade hipócrita, que condenam pessoas pelos próprios erros que cometem. Não me importo. Não estarei aqui para me importar.
E é isso que tinha a dizer, ou seja, deixar para vocês.
Estarei esperando por vocês do outro lado. Junto com Kevin.
Ps.: Se vale de consolo, podem ter certeza que estarei melhor que vocês.



Erin."

sábado, 2 de outubro de 2010

ELe e ElA

Foi exatamente assim que essa história começou.

Ele vivia numa pequena cidade no Sudeste do país. Nascido e criado na mesma cidade por sua família simples. O pai trabalhava na administração de uma empresa religiosa em ascensão, que no final das contas, não lhe rendera mais que perturbações. A Mãe dividia seu tempo entre os afazeres domésticos e uns pequenos bicos que fazia para ajudar nas despesas de casa. Ele ainda terminava o Ensino Médio sem maiores ambições. Tinha um serviço não muito bom, mas que o proporcionava levar algum pra casa para dar sua contribuição.
No que se referia a características dele, sabíamos que era humilde, do tipo capacho dos outros, meio bipolar, hora estava bem, hora mal,podemos considerar mais mal do que bem. Não podíamos dizer que estava apaixonado, mas tinha certa atração pela colega mais bonita de sua classe, que embora ele nunca tivesse descobrido se ela havia sacado sua imensa afeição por ela, não seria ele quem fosse contar. Era tímido demais o pobre imbecil. Mas acreditava que ela soubesse sim, sempre que ela se referia a ele, usava um charmezinho atipicamente cruel, e seus olhos brilhavam enquanto jogava seus cabelos, sem dúvidas, para que ele pudesse sentir o seu cheiro. Nesses momentos eram onde suas confusões o assolavam, queria se aproximar, mas ela era ela, e ele... Apenas Ele. Tinha medo dela, de uma possível e inevitável rejeição, assim como sempre tivera medo de relacionamentos, não era pra menos, nunca tivera sido feliz em um dos anteriores.

Ele era um babaca.

Quanto a Ela, não a garota da escola, Ela, A “Ela” da nossa história, infelizmente não temos muitas informações. Provavelmente crescia em sua família de Classe Média, na divisa de dois estados no Sul, sonhando com sua faculdade de Medicina, e com seu Príncipe Encantado que a levaria para a Irlanda, quem sabe. Sua personalidade se formava enquanto amadurecia. Altivez, ironias seguidas de perto pelo sarcasmo, sem contar o seu humor negro e inteligente caracterizavam o seu forte temperamento.

Não acho muito ético falarmos muito sobre ela, pelo fato de conhecermos melhor o lado dele nessa história. Então vamos pular tudo isso, e chegarmos logo na parte que o Destino, coloca um na vida do outro.

Bom, foi em uma noite dessas sem menores expectativas. Ele navegava em um desses sites de relacionamentos, e esbarrou em uma daquelas comunidades, que se relacionava a um filme que havia assistido há pouco. Sem hesitar, ingressou na mesma, e encontrando um tópico cuja finalidade era criar uma historia relativa à personagem do filme, sem problemas nenhum, escreveu a sua e pronto. Estava lá o nosso babaca, participando da comunidade. Sua história lhe rendera alguns comentários de alguns participantes, e de cara nosso amigo, se identificou com algumas outras pessoas.
A partir daí, o seu contato com aquelas pessoas desconhecidas não cessou mais, estava sempre lá. E num dia desses lá também estava Ela.
Suas trocas de mensagens passaram despercebidas, até o momento que perceberam que estava se firmando uma amizade entre eles. Coisa que ainda não é muito bem aceita na nossa sociedade globalizada e tecnologicamente desenvolvida. Vai se entender esse povo. Mas o fato era que ela aparecera na vida dele, no mesmo momento em que ambos precisavam um do outro. Ela precisando de apoio pra tomar decisões no que se referia a um relacionamento anterior, e ele precisando de uma cura pra sua estupidez, e de alguém que lhe mostrasse como era se sentir vivo.
Eles eram tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Se houve um caso na história da humanidade que se poderia dizer que existia duas pessoas em que realmente, uma completava a outra, era nessa história. Eram parceiros de verdade. Amigos.
Amigos de filmes, livros, músicas e quaisquer outras afinidades, desde coisas fúteis a opiniões religiosas.
Conforme o tempo passava, cada vez mais, um se tornava mais essencial para o outro. E quando deram por si, a amizade que tinham não era suficiente pra nenhum dos dois. Ambos queriam mais. Mas como se dá isso, se nem ao menos se conheciam, desconheciam completamente a vida real um do outro. Como o babaca com medo de relações estava caindo em si e percebendo que amava a irônica e inteligente projeto de médica? Como poderia ser possível?
E o tempo passava e junto com ele a vontade de estarem perto um do outro aumentava. Uma vez, ela sumiu, sem deixar rastros, ele quase enlouquecera, o que causou uma briga sem sentido, mas que servira para algo, perceberem que estavam tão interligados que alguns dias distantes do contato, ainda que virtual, correspondia ao mesmo que um martírio. Ele planejava ir encontrá-la. Sonhava com isso. Mas sua realidade ainda não havia permitido. Imaginava, projetava, das mais diferentes formas possíveis, como seria esse encontro. Sonhava com ela, procurava por ela. Buscava em cada rosto pela cidade o rosto dela.
O Tempo veio, e não facilitou nada em favor dos dois. Parecia que tramava junto com o Destino e com a Vida, que tem por hobby separar pessoas que se amam. E aconteceu que chegou a hora que cada um tinha que buscar seus próprios caminhos. A Ausência começou a sufocar o amor que os dois sentiam sem nem se conhecer. Os problemas vieram, e por fim decidiram colocar um fim naquela história, embora que isso causasse dor. Decidiram seguir os novos caminhos que a vida decidiu lhes impor, mas não sem antes prometerem guardar os momentos bons que tiveram juntos, e aquela coisa toda, de casais apaixonados... vocês sabe como é...
Assim fizeram.
Ela descobriu que seu pai viajaria pra região Sudeste, e decidiu ir com ele, decidira que pediria ao pai para passar ainda que por instantes na cidade dele. Afinal, ela queria muito conhecê-lo. Assim aconteceu. Eles procuraram o endereço dele, mas não o encontraram. Ele havia saído mais cedo e não voltaria naquele dia.
Ele tinha saído de uma reunião e iria dormir na casa de um amigo que morava perto. Esse amigo, estava ajudando ele a superar tudo o que estava passando, o aconselhara sair com outras garotas, a não estagnar sua vida. Naquela noite ele havia escrito uma carta, uma carta que continha um texto que mandaria para ela. Um último texto. No caminho um Astra Preto, encostara e de lugar algum dois caras encapuzados o cercaram, colocaram o motorista do carro para fora a pontapés. Um deles tirou o seu revólver e apontou para o motorista, disparando dois tiros em sua cara. Nosso amigo tentou se esconder. Tarde de mais, o bandido já o tinha visto. Foi ao seu encontro e meteu-lhe uma bala no meio da testa, e sem ter tempo de se despedir, o Babaca que havia se tornado um homem, desde o encontro virtual com Ela, deixou a vida ultrapassando o véu que separa os dois mundos, antes que pudesse dizer à Ela que estava indo ao seu encontro.
O sangue escorria da testa, descendo pelo ombro e seguindo seu caminho pelo braço até chegar e inundar o papel que outrora estivera preso em sua mão.
Ela e seu Pai, seguiam seu rumo, nossa garota inteligente voltaria para casa, sem conhecer seu amado virtual. No caminho tiveram que pegar um desvio. Alguma coisa tinha acontecido naquela rua, que a polícia estava ali. Enquanto o seu pai conversava com o guarda, tiveram que abrir passagem para o carro do Corpo de Bombeiros... Parecia que haviam dois corpos na rua. Um senhor e um rapaz haviam sido assassinados friamente, pelo que o policial lhes haviam contado. Imagina que coisa – pensara ela – quantas pessoas não deviam amar essas pessoas e deviam estar os esperando em casa.

Dias depois, recebera um e-mail, de um desconhecido. Nele explicava tudo o que havia acontecido. Num arquivo em anexo, havia uma imagem do que havia sobrado do papel que Ele segurava naquela noite. Com a sua caligrafia estava escrito no meio de umas manchas de cor enferrujada:

Tens minha palavra Minha Dama.
Volto para casa, mas ao findar a luz,
Estarei de volta.
À sua espera. À sua Procura.

Pronto para realizar meu anseio.
Tens minha palavra.

Estarei aqui... Por você,
Por mim...
Por nós.”