Em algum
lugar na cidade, um cara chamado John bebia seu vinho ao som de uma linda
interpretação de blues, até o cheiro de cigarros e de perfume barato começar a
incomodá-lo. Com uma piscadela para Janis, a cantora, John trocou o ambiente
seco e aquecido pela chuva e os ventos frios da avenida.
Sarah descia
a avenida rapidamente. No início da tarde havia sepultado seu irmão - A única
família que lhe restara depois que perdera seus pais. - Se sentia drenada, vazia. Não conseguia sentir
nada, nem mesmo a chuva que descia sobre seu rosto pálido. Ela chegou na
estação e comprou uma passagem para o próximo trem.
Dentro desse
trem da meia-noite, os seus caminhos se cruzaram pela primeira vez. Sarah havia
se sentado próxima a John. De alguma forma sua presença magnetizava a atenção
dele. Lentamente sua respiração começava a pesar e quando o trem parou em
determinada estação, ela deu um salto de seu banco e desceu do trem. Ele,
preocupado com a moça, se meteu entre a porta que se fechava e tentou seguí-la.
Aquela
estação estava bem cheia, e entre as pessoas e suas sombras e andarilhos por
toda parte ele a perdeu. Tentou andar um
pouco mais, mas a chuva caía cada vez mais forte, e ele acabou desistindo de
procurá-la. Não havia mais trens naquela noite. Teria que ficar por ali até o
das cinco da manhã.
Aproximando-se
da segunda entrada da estação, parou olhando ao redor. E lá na frente ele
avistou uma ponte e alguma coisa naquele vulto,
aparentemente imóvel atraiu sua atenção. Quando deu por si, já se
encontrava naquela ponte, tão molhando quanto podia estar.
Ele aproximou-se
devagar. Ela não se movia. Olhava fixamente para as águas que batiam nas pedras
do rio. A lâmpada do poste acima deles, piscou duas vezes e apagou.
Apesar de
não ter idéia do que havia acontecido, ele queria ter dito alguma coisa. Algo
que de repente pudesse fazer algum sentido para a moça. Havia nele essa
necessidade de que pudesse fazer algo que pudesse tocá-la. De alguma forma, ele
queria que ela pudesse senti-lo. Sentir que por mais estranho que parecesse e
por mais desconhecido que ele fosse, ele estaria ali para ela.
Sua mão
ousou encostar no braço dela, mas antes que encostasse ela se virara para ele.
Seus olhos se encontraram e se existisse mesmo amor a primeira vista, por mais
que essa fosse a segunda, ele sentia que era o que havia acontecido. Ela
parecia tão perfeita ali naquela chuva, com toda a sua dor reprimida em seus
olhos...
“- Como deve
ser morrer?” – Ela perguntou. Ele que continuava olhando para ela, desviou seus
olhos para o rio. “- Eu realmente não sei, mas acredito que você não vá querer
saber. Pelo menos não agora, com tanta vida pela frente.” – Ela voltou a
encarar o rio. “- Acreditar...” – ela repetiu. “- O que significa acreditar?” –
perguntou voltando seus olhos para ele.
“-
Confiar... crer... ainda que os tempos não sejam favoráveis. É como pegar uma
parte de você, que você quer que seja real, e fazer com que ela se torne...” –
Ele tentou.
“- Não sei
se ainda pode existir uma parte de mim que possa se tornar real. Eu enterrei a
que eu tinha mais cedo. Meu irmão. A única coisa que eu tinha. Vim parar aqui,
exatamente por não conseguir acreditar em mais nada. Por não conseguir sentir
mais nada. E estava pensando se eu conseguiria sentir alguma coisa se eu
acidentalmente caísse no meio daquelas pedras. Nem que fosse apenas dor. Ou a
morte.”
“- Consegue
sentir isso?” - Dessa vez ele a tocou.
“- Sim.” –
Ela murmurou.
“- Isso
significa que você sente alguma coisa. Está viva. Eu sinto muito pelo seu irmão
e sinceramente não acho precise da morte para sentir alguma coisa, não o
conhecia, mas creio que ele também pensaria assim. Você não precisa morrer para
estar com ele. Tenho certeza que aonde quer que ele esteja, ele sempre estará
com você.
Apesar da chuva,
John podia jurar que Sarah chorava. Ela de fato o fazia.
“- Eu...” –
ela começou. “- disse a mesma coisa a ele na noite que nossos pais morreram. As
mesmas palavras ‘Tenho certeza que aonde quer que eles estejam, eles estarão
com a gente sempre...” – Naquele momento ela desabou, e John a segurou. E lá
estavam eles, ele abraçando ela no chão, no meio de uma ponte, bem debaixo de
uma tempestade. Ele sentia a dor dela, e ela o sustento que vinha dele. Tudo
que ele queria ser para ela.
Ela chorou,
pelo que parecia ter sido horas. E ele ali dizendo que tudo ia ficar bem.
Num
determinado momento ela disse: “- Você nunca sabe de onde virá o seu próximo
milagre...” – ele a olhou. “- Mark Schwahn... um dos escritores favoritos do
meu irmão. Esse texto fala sobre acreditar também. Obrigada...” – Ela havia se
dado conta de que não conhecia a pessoa que a abraçava.
“- John...”
– Ele disse..
“- John. Um
nome legal.” – Ela tentou sorrir. “- Sarah. Meu nome é Sarah.”
“- É.. o seu
também parece legal Sarah...” – Ele brincou – “Mentira... é lindo.”
Ali, naquele
momento, ela conseguiu sorrir.
Enquanto alguns ganharão,
alguns perderão...
Enquanto alguns nasceram para cantar blues,
Enquanto alguns nasceram para cantar blues,
Outros dão duro
para sentir novamente algum tipo de emoção...
No Final, restam
apenas Estranhos esperando a próxima rodada dos Dados,
E assim, O Filme da
Vida nunca termina...
É assim sem parar...
sem parar...
sem parar...
E o que tiramos
de lição?
Adaptando o que o
sábio Schwahn disse:
“Você nunca sabe
de onde o próximo milagre virá... a próxima Emoção, O Próximo John, a próxima
Sarah.
O Mundo está
cheio de Magia, Então faça o seu pedido.
Você fez?
Ótimo. Agora
acredite nele.
De todo seu
coração.”
E nunca, Nunca
Pare de Acreditar.